segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Qualidade da Gestão e Bem-Estar Social

As causas geralmente apontadas pelos economistas para explicar o desenvolvimento dos países são, entre outras, a qualidade dos seus recursos humanos, a qualidade e quantidade dos seus recursos naturais, a política económica, a estabilidade politico-social, a dimensão do mercado e a eficiência da administração pública, esquecendo muitas vezes o impacto de um elemento fundamental que é a qualidade da gestão. De facto, os primeiros economistas como Adam Smith e o reverendo T. R. Malthus salientaram o papel da terra e dos recursos naturais no crescimento económico, enquanto modelos mais recentes como o modelo de crescimento neoclássico colocam a ênfase na acumulação de capital e no progresso tecnológico. Outros economistas enfatizam a qualidade das políticas monetárias, fiscais, aduaneiras e outras de âmbito económico como sendo o principal factor de crescimento e desenvolvimento. Contudo, tal como defende Vasconcelos e Sá, também é da maior ou menor capacidade da gestão em optimizar o funcionamento das organizações através de uma eficiente utilização dos recursos disponíveis que irão depender os níveis de produtividade, a capacidade de inovação e a qualidade de vida dos seus membros e, consequentemente, os níveis de bem-estar social.

É esta uma das razões que justifica o facto de diversos países de pequena dimensão e com poucos recursos naturais apresentarem elevados níveis de desenvolvimento económico e de bem-estar social. Veja-se por exemplo o caso da Suiça que, com um mercado de pequena dimensão e com fracos recursos naturais, se tornou num dos países mais ricos do mundo. Outro exemplo é o do Japão que em poucos anos após a Segunda Guerra Mundial se tornou num dos países mais prósperos graças à capacidade de inovação das suas empresas.


Produtividade:


Como vimos anteriormente, um dos objectivos principais da gestão é a afectação eficaz dos recursos disponibilizados pela organização, o que, por outras palavras, significa maximizar os níveis de produtividade. Sendo os recursos disponíveis excassos por definição, a produtividade torna-se assim numa das principais determinantes do crescimento económico.
Considerando a produtividade como a relação entre o total de vendas e o total de custos necessários para atingir essas vendas, a maximização da produtividade é conseguida quando, para determinado nível de vendas, são minimizados os custos ou, alternativamente, quando, para um determinado nível de custos, é maximizado o valor das vendas (maximização do numerador e/ou minimização dos elementos do denominador). Para isso são escolhidas as melhores orientações estratégicas em relação aos produtos e mercados, parcerias, etc e são definidas políticas de marketing que posicionem adequadamente os produtos ou a organização no mercado por forma a aumentar o volume de vendas; são avaliadas as diversas opções de financiamento da actividade e dos investimentos afim de minimizar os custos financeiros de financiamento; são escolhidas as pessoas mais adequadas para cada função e adoptadas políticas de motivação eficazes e são implentadas as estruturas organizacionais e escolhidas as políticas e procedimentos que possibilitem uma boa coordenação e controlo das actividades por forma a aumentar a produtividade, ou seja, reduzir os custos do pessoal por unidade produzida; são estudados os equipamentos e tecnologias e as formas mais eficientes de produção.


Inovações:

Além dos níveis produtividade, o desenvolvimento económico também depende da quantidade e da qualidade das inovações e aqui, mais uma vez, a influência da qualidade da gestão é decisiva. De facto, e tal com defendia Schumpeter já no início do século, a inovação é a principal fonte do sucesso das economias de mercado e do crescimento económico. Segundo Schumpeter, as inovações, sempre que satisfaçam necessidades concretas, estimulam a procura, levando ao aumento da produção e do emprego e, consequentemente, do rendimento. Um dos aspectos importantes é que não é necessário uma inovação complexa para originar este aumento do rendimento, bastando que tenha utilidade.

Segundo Peter F. Drucker, a maioria das inovações decorre da exploração da mudança existindo sete áreas (ou fontes de inovação) onde as organizações devem procurar essa mudança por forma a identificar oportunidades de inovação. Essas fontes de inovação são dividas em fontes de inovação dentro da organização e fontes de inovação fora da organização:

Dentro da organização:

  1. Acontecimentos ou resultados inesperados: no caso do sucesso ou resultados posítivos inesperados, estes indicam geralmente uma transição ou tendência que abre um novo mercado potencial que poderá ser explorado através do desenvolvimento de novos produtos ou serviços; quanto ao insucesso ou resultados negativos inesperados, também podem indicar uma mudança no mercado que poderá ser transformada em oportunidade se fôr eficazmente aproveitada através da inovação;
  2. Incongruências: significa que existe algo que não faz sentido para a organização, originado geralmente por suposições erradas em relação ao mercado ou em relação aos processos; estas incongruências também podem constituir importantes oportunidades para a organização desde que sejam identificadas por forma a alterar as percepções ou suposições dos gestores;
  3. Necessidades de processo: as inovações orientadas a satisfação de necessidades de processo consistem na introdução de melhorias nos processos de produção ou outros, permitindo ganhos de eficiência e, consequentemente, aumento da produtividades;
  4. Mudanças inesperadas ao nível da estrutura da indústria ou do sector: os crescimentos rápidos e as alterações de estratégia dos concorrentes, clientes ou fornecedores podem ser bem aproveitadas se as suas causas forem correctamente identificadas e se forem efectuadas inovações que permitam uma adequada adaptação ao novo contexto;

Fora da organização:

  1. Alterações demográficas: o aumento do nível educacional, idade ou dimensão de um segmento de mercado específico é facilmente identificável e previsível, constituindo também uma importante fonte de inovação.
  2. Mudanças de percepção: representa as alterações nos hábitos e estilo de vida das pessoas e podem ser identificados através, por exemplo, de sucessos ou insucessos inesperados, constituindo também uma importante fonte de inovação;
  3. Novos conhecimentos: os avanços científicos proporcionados pela investigação e desenvolvimento é a última fonte de inovação identificada por Drucker e também a menos acessível à maioria das organizações devido aos elevados recursos técnicos financeiros e humanos que normalmente exige.


Qualidade de Vida:

Finalmente, o caso da influência da gestão na qualidade de vida dos cidadãos: esta deve-se essencialmente ao facto de uma parte importante da vida das pessoas ser passada no seu local de trabalho.
Devido às insuficiências de indicadores contabilísticos como o Produto Interno Bruto (PIB), para medir a qualidade de vida são, geralmente, utilizadas outras medidas como a taxa de mortalidade infantil, a taxa de alfabetismo, a esperança média de vida, entre outras. Mas a qualidade de vida também depende de factores como as condições de trabalho e o grau de satisfação com as funções desempenhadas e com o clima organizacional, sendo que estas estão directamente relacionadas com a qualidade de gestão.

Por: Paulo Nunes - Consultor de Empresas (pcnunes@sapo.pt)

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